Estima-se que apenas um terço das fraudes corporativas são detectadas e que, em média, 10% das grandes empresas de capital aberto cometem fraudes relacionadas a ativos financeiros de acordo com um estudo recentemente publicado por Alexander Dyck da Universidade de Toronto.

A pesquisa realizada pela ACFE (Association of Certified Fraud Examiners)¹ menciona que cerca de USD 4,7 trilhões são perdidos globalmente por conta de fraudes corporativas, o que representa 5% da receita anual das organizações.

Essa pesquisa analisou mais de 2mil casos de fraude ocupacional em 133 países, os quais equivaleram a perdas financeiras na ordem de USD 3,6 bilhões. O termo fraude ocupacional refere-se a fraudes cometidas por indivíduos contra as organizações que os empregam ou mesmo por seus proprietários e acionistas. E é a forma mais custosa e mais comum de crime financeiro no mundo.

Os esquemas de fraude nas demonstrações financeiras, nos quais o fraudador causa intencionalmente uma distorção ou omissão relevante nas demonstrações financeiras da organização, é a categoria das fraudes ocupacionais menos praticada, mas com valores mais representativos de perda.

Segundo a pesquisa, apenas 23% dos casos analisados foram cometidos pelos proprietários e executivos das empresas, mas estes foram os que causaram mais prejuízos financeiros. 85% dos fraudadores apresentaram comportamentos suspeitos típicos em casos de fraude como por exemplo viver além de suas posses, apresentar dificuldades financeiras, relacionamento excessivamente próximo com clientes e fornecedores, irritabilidade incomum ou postura muito defensiva, entre outros. Portanto prestar atenção a estes sinais é muito importante.

Essas fraudes em sua maioria foram descobertas devido às denúncias efetuadas pelos próprios colaboradores, fornecedores e clientes (42%), em segundo lugar pelos trabalhos da auditoria interna (16%), em terceiro pela revisão da administração (12%) e os demais como monitoramento dos dados, auditoria externa, reconciliações, por confissão ou por notificação por agências reguladoras somam 30%.

Metade destas fraudes ocorreram devido a inexistência de controles internos ou pelo fato de os fraudadores terem burlado os controles existentes.

E o que as organizações devem fazer para evitar fraudes e suas consequentes perdas financeiras?

Avaliar seus riscos

As organizações devem identificar os principais riscos de fraude exclusivos de sua própria organização, dependendo da natureza do setor, geografia, fornecedores e clientes.

Revisitar seus controles internos

Uma vez concluída a avaliação de risco, os controles internos devem ser analisados para garantir que os riscos relevantes sejam mitigados com um controle correspondente.

Reavaliar o modelo de incentivos

Considerar as métricas pelas quais os colaboradores são avaliados e como isso pode criar incentivos tácitos para atos fraudulentos. O modelo de incentivo impacta diretamente a saúde da cultura organizacional.

Avaliar o treinamento e o tone from the top

É essencial que a administração estabeleça o padrão de conduta ética e reforce de forma clara uma cultura de ética e conformidade. Quando combinado com treinamentos regulares, o resultado é uma ferramenta eficaz contra a má conduta dos colaboradores.

Entender o papel dos órgãos de governança

Iniciando pelo Conselho de Administração com o apoio dos comitês de assessoramento (ex. Comitê de Risco, Financeiro, de Auditoria, etc.), para que essa cadeia de governança trabalhe na adequada supervisão do corpo diretivo, promovendo o amplo debate sobre riscos e ambiente de controles internos de forma que a possibilidade de ocorrência de fraude seja minimizada.


1 Occupational Fraud 2022: A Report to the Nations – https://acfepublic.s3.us-west-2.amazonaws.com/2022+Report+to+the+Nations.pdf